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  Emmanuel Coelho Maciel

Vida e Obra de Emmanuel Coelho Maciel


              Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 16 de Outubro de 1935, onde iniciei os meus estudos musicais com os seguintes professores: Tenente Alonso Sales, na Escola de Formação Musical da Polícia Militar de Minas Gerais; Jean Douliez, Curso Básico de violino, na mesma escola de formação musical, professor de nacionalidade Belga, compositor e regente de Orquestra,  concluindo o referido curso na Universidade Mineira de Artes com o Professor húngaro Gabor Buza, refugiado político radicado em Belo Horizonte após 2ª Guerra Mundial. Quanto a minha formação teórica  a realizei no Conservatório Mineiro de Música, onde cursei Harmonia com o Maestro Hostílio Soares e Análise Musical com o professor Luiz Melgaço, ilustres compositores mineiros.  
           Terminado o curso de violino tornei-me assistente do Professor Gabor Buza na Universidade Mineira de Artes e regente da Orquestra de Câmara da referida instituição. Concomitantemente atuei como violinista profissional das Orquestras Sinfônicas da Polícia Militar de Minas Gerais como 1º Sargento músico, e na Sociedade Mineira de Concertos Sinfônicos de Belo Horizonte, participando inclusive de “Temporadas Líricas Oficiais”, bem como dos Concertos no Teatro Municipal de Belo Horizonte, posteriormente Teatro Francisco Nunes. 
         Por esta época (1956/7) atuei como violinista solista em concertos e recitais, além de regente da Associação Coral Evangélica de Belo Horizonte. Como violinista solista Fez parte do meu repertório os dois “Romances” de Beethoven; o “Concerto” de Max Bruch ;  o de Mozart em Sol Maior; além de inúmeras peças do repertório violinístico de concerto.
        Em 1957 prestei concurso para o Conservatório Estadual de Música “Pe José Maria Xavier” de São João del-Rei, cidade histórica, famosa por sua cultura musical, onde lecionei, a partir do ano letivo de 1958, as cadeiras de  violino, viola e Canto Coral, e organizei  o  Madrigal Villa-Lobos.
      Em seguida fui para o Rio de Janeiro como bolsista do antigo “Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos” (INEP-MEC), onde cursei “Especialização” em Educação Musical no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, instituição criada e dirigida por Heitor Villa Lobos.
      No Rio de Janeiro atuei por concurso público como violinista das Orquestras Sinfônicas, Brasileira (OSB),da Orquestra de Câmara “Pró-Arte”, e como violinista “free lance” nas Rádios Nacional, Tupy, Teatro Municipal gravadoras “Odeon” e “Continental”. Concluído o Curso de Especialização no Rio de Janeiro retornei a São João Del-Rei, reassumindo o cargo de professor do Conservatório de São João Del-Rei, permanecendo até 1963, ocasião em que prestei concurso para  professor da  Fundação Educacional e Prefeitura do Distrito Federal (FEDF/PDF), tomando posse em março daquele mesmo ano no “Centro de Educação Média Ave Branca” (CEMAB), Cidade Satélite de Taguatinga, sob a Coordenação do Maestro Levino Alcântara.
       Em Taguatinga atuei, além do CEMAB, no “Colégio Industrial”, onde organizei grupos corais e conjuntos camerísticos com os meus alunos de cordas friccionadas. Com o Coral do “Ginásio Industrial de Taguatinga” (GIT), excursionei ao Rio de Janeiro em 1965,realizando excelentes apresentações com o coral, inclusive na “Associação Brasileira de Imprensa” (ABI) e redação do jornal “Última Hora”.
        No começo de 1964 participei da “Caravana Da Cultura” com o Embaixador Pascoal Carlos Magno, como “spalla” dos 1º violinos, e percorremos de ônibus à Estrada Belém-Brasília, passando pelas principais cidades daquele percurso, realizando concertos  didáticos para o público em geral nos  teatros e praças públicas das cidades por onde passávamos.       Participava do grupo vários artistas de renome, cantores e cantoras líricas, artistas cênicos e de artes plásticas, além da orquestra de câmara (corda e sopro), da qual fui “spalla” dos 1ºs violinos. É fácil imaginar a importância do evento apoiado pelo Governo do Presidente da República, Dr. João Goulart: palestras em Universidades e escolas públicas, encenação de peças teatrais, concertos em praças públicas com o coral lírico, orquestra e solistas, apresentando obras do repertório operístico internacional e do repertório instrumental de orquestra.  Assim chegamos à Recife no finalzinho do mês de março e,após algumas apresentações, defrontamo-nos com o Golpe Militar que derrubou o Presidente João Goulart no dia 31 de março de 1964, deixando-nos apreensivos, na expectativa de quando seria  o nosso  regresso às origens. 
        Em Brasília, no ano de 1966, assumi o cargo de professor violinista da Orquestra de Cordas da “Universidade Nacional de Brasília”, a convite do Maestro Cláudio Santoro, Chefe do Departamento de Música da UnB, tornando-me em seguida Coordenador dos “Concertos de Sábado”, realizados no auditório do Instituto Central de Artes daquela instituição. O violinista “spalla”da orquestra era  Nathan Shwartzmann , que depois cedeu o seu lugar a Moisés Mandel. Em ambas as ocasiões permaneci como “concertino” dos primeiros violinos.  Nas violas e nos violoncelos tínhamos, respectivamente, os famosos irmãos Regis e Rogério Duprat, além do violoncelista italiano Gino Pachiaudo e do contrabaixista espanhol Angel Jaso Grela, completando o quadro da orquestra, além de outros colegas. Ainda como complemento das atividades camerísticas destinadas à divulgação da música de concerto, organizou-se no departamento o quarteto de cordas da UnB, do qual fiz parte tocando o 2º violino, tendo como  participante no 1º violino Nathan Shwartzmann, Regis Duprat na viola e Gino Pachiaudo no violoncelo. Com este quarteto de cordas participamos de momentos agradáveis na Embaixada Americana, em Brasília, ao lado do Embaixador Norte-americano (e violoncelista amador de excelente qualidade), Lincoln Goordon.
       Em 1969 fui requisitado para a “Universidade do Amazonas” (UFA), onde atuei como violinista e regente de coro em vários concertos no Teatro Amazonas e orientei o Conjunto  de Câmara Orpheus.  Lotado no Conservatório “Joaquim Franco” da Universidade do Amazonas, pude conhecer o ilustre amazonense e professor de História da Música do Conservatório , o grande poeta amazonense Luiz Bacelar, de quem aproveitei  alguns poemas e compus a “Suite-Cantata Sol  de Feira”.  
       Com a inauguração da Escola de Música de Brasília (1971), tornei-me Vice-Diretor por cinco períodos consecutivos, até maio de 1976, quando deixei o referido cargo e assumi em junho do mesmo ano as funções de professor da Fundação Universidade do Piauí (FUFPI),requisitado de Brasília, sem ônus para o órgão de origem.
     Durante todo este tempo inúmeras composições de minha autoria para coro à “Capela”, orquestra, grupos camerísticos de corda e sopro, foram executadas em Belo Horizonte, São João Del-Rei, Brasília,  Manaus,  Rio de Janeiro,  Buenos Aires e Mar Del Plata.
        Circunstâncias que marcaram a minha vinda para o Piauí. 
      Em 1974, durante o primeiro governo do Dr. Alberto Silva, chegou a Teresina o Maestro Reginaldo Carvalho, Ex- Diretor do Instituto Villa-Lobos do Rio de janeiro, a convite do governador Alberto Silva, trazendo consigo uma excelente equipe de Arte Educadores, com o objetivo de incentivar e reciclar o ensino das Artes nas Escolas Públicas Estaduais de Teresina. 
     Como integrante da equipe comandada pelo Maestro Reginaldo Carvalho, o argentino Emílio Terraza, pianista e compositor erudito radicado no Brasil, logo conquistou a sociedade teresinense tocando ao piano os mais belos “tangos argentinos”.  Logo, logo, tornou-se amigo do professor Camilo Filho, então Reitor da Fufpi.
       A partir dessa amizade Terraza conseguiu sugerir ao Reitor Camilo Filho a criação na Fufpi de um Setor de Artes, com o objetivo de oferecer à comunidade universitária e teresinense de modo geral, “Oficinas de Artes Criativas” em Música, Artes Plásticas e Cênicas, começando  com uma primeira turma em 1975. Para isto adquiriu, em função da Oficina de Música, um teclado, um modesto equipamento de som, um quarteto de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo). Contudo, por motivos pessoais Terraza ficou impossibilitado de continuar em Teresina, já tendo acertado com o Reitor a continuidade daquelas Oficinas sob nova estrutura (Curso  de Curta Duração em Música), com o primeiro vestibular a realizar-se em  janeiro de 1976,  indicando  ao Magnífico Reitor três nomes para assumirem o referido curso: o meu, e o dos seus ex-alunos na UnB (Curso de Bacharelado em Música), Luiz Botelho e Carlos Galvâo,  e  professores da Escola de Música de Brasília, da qual eu era o Vice-Diretor  e  ex-professor de violino de um dos seus filhos, com aulas ministradas em seu  apartamento  em Brasília.
     Luiz Botelho e Carlos Galvâo assumiram suas novas funções em Teresina em 1975, passando o professor Luiz Botelho a ocupar o cargo de Coordenador do Setor de Artes, cabendo a ambos a responsabilidade do 1º Vestibular em Música na Fufpi, com o início das aulas previsto para março de 1976. Eu só pude assumir as minhas novas funções na Fufpi em junho de 1976, quando me desvinculei do cargo de Vice-Diretor da Escola de Música de Brasília.  


                       Panorama da Música piauiense quando da minha chegada a Teresina   


         Eu não tenho receio em afirmar que o panorama cultural musical teresinense pode ser dividido em “antes” e “depois” do surgimento do Curso de Música da UFPI, pois, a música dos anos setenta em Teresina estava entregue a pouquíssimos grupos, como o de “jazz- band”, em sua maioria com a presença de músicos  militares; a “Turma do Chorinho” liderada  pelo flautista Dr. José Lopes dos Santos, professor do curso de Direito da Fufpi ;  o vocalista e seresteiro  Silizinho, que encantava as noites na famosa churrascaria “Beira-Rio”, enquanto  outros grupos “iê-iê-zados”  interpretavam músicas da “Jovem –Guarda”, animando as festas de formatura e  final de ano nos  Clubes  “Dos Diários”, do “Iate” e  “Jockey Clube”. As populações menos favorecidas economicamente se divertiam ao som de grupos forrozeiros em meio às churrascarias situadas na periferia da cidade. Em junho de 1976, quando aqui cheguei , a “TV Rádio Clube” era a única existente na cidade, funcionando diariamente apenas algumas horas, nela fazendo sucesso à apresentadora Elvira Raulino, com um programa destinado à sociedade teresinense. Só existia o Jornal “O Dia”. Quanto ao nível dos músicos instrumentistas, cantores e cantoras, desconheciam o processo de “decodificação de linguagem”, excetuando, é claro, os de origem militar. Eram em sua maioria músicos que tocavam de “ouvido”. A “Rádio Clube” de Teresina, ou as demais emissoras de ondas medias e curtas é que comandavam a mídia radiofônica da cidade, subordinadas, como ainda hoje, à Indústria Cultural de Massa, ou seja, ao “lixo cultural! Não se ouvia música erudita, como ainda hoje não se ouve! Este tipo de música, para as pessoas que casualmente as ouviam, era uma espécie de música de finados. Quanto ao meu instrumento, o violino, só conheciam a “rabeca”. Contudo, havia um aluno na 1ª Turma do Curso  de Curta Duração em Música, o José Mendes, que possuía uma iniciação nesse instrumento, e  foi adquirindo, com as nossas aulas, um bom desenvolvimento técnico, chegando a participar do nosso Grupo de Música de Câmara,  e  ser um dos nossos assistentes no  Projeto  criado por nós, em 1994, encampado pela FCMC/PMT , “Projeto Orquestra de Câmara de Teresina”, verdadeiro embrião da atual Orquestra Sinfônica de Teresina.
       De resto, como em quase todo o Brasil daquela época, predominava, de um lado, as influências da música popularesca internacional através de artistas como Paul Anka, Neil Sedaka, e o guru do Rock norte-americano, Elvis Presley, além da “bossa-nova” e da chamada “Jovem Guarda” de Roberto Carlos;  do outro, as nossas tradicionais músicas carnavalescas e  a chamada “velha-guarda”,  com suas valsas seresteiras, seus grupos de  “Chorões”, seus sambas-canções, seus tangos argentinos tão populares  entre nós, seus boleros e mambos importados da América Central.
            Em termo mais refinado havia somente duas bandas de música em Teresina, a do Exército (25º BC) e a da Polícia Militar do Piauí, e dois corais, o “Nossa Senhora do Amparo”, regido pelo Maestro Reginaldo Carvalho, e o recentemente organizado no Curso de Música da nossa universidade, em apoio ao Grupo de  Música Popular criado pelos professores Luiz Botelho e Carlos Galvão, constituído de alunos do Curso de Curta Duração em Música. 


                                         Os primeiros trabalhos realizados por mim em nossa IES


      No 2º semestre de 1976 assumi as minhas novas funções de professor no recém-criado Curso de Curta Duração em Música de nossa universidade. Como músico instrumentista (violinista e violista) foi-me possível, com o Carlinhos e o Luiz Botelho, criar o Grupo de Música de Câmara do Setor de Artes, com a participação da professora Gislene Macedo (pianista e prof. De técnica vocal),  pertencente a outro departamento  e posta à disposição do curso de música. Com isto pôde-se formar o primeiro grupo de música de câmara em nossa IES: dois violinos (eu e o Luiz), teclado e/ou voz (Gislene Macedo), contrabaixo acústico ou violão (Carlinhos), e participações especiais de alunos. O coral pôde ser ampliado e melhorado com a professora Gislene Macedo, ao ministrar a disciplina Canto Coral e Técnica Vocal.
       Em 1977 assumi compromisso com a Professora Nerina Castelo Branco, e criei junto às suas alunas da disciplina Cultura Popular, o Coral Feminino “Num SI Pode”, com o objetivo de pesquisar o folclore piauiense e interpretá-lo musicalmente com o coral. Ao mesmo tempo organizei uma orquestra tipo regional (dois violões, cavaquinho, bandolim, clarineta, e acordeon), com os alunos do Curso de Música (e gente da comunidade), para acompanhar o coral. Foi um sucesso!   Com este coral viajamos ao interior do Piauí e iniciamos válidas pesquisas sobre o folclore piauiense. No finalzinho deste ano Luiz Botelho e Carlos Galvão anunciaram as suas saídas de Teresina, tendo em vista cursos de mestrado, o que me levou a assumir, em um momento crítico, a Coordenação do Setor de Artes, pois tínhamos uma turma regular de alunos vestibulandos, mas não tínhamos uma equipe de professores à disposição do curso.
      A nossa primeira iniciativa junto a Reitoria como Coordenador do Setor de Artes foi mostrar que as licenciaturas de curta duração estavam em extinção, e que havia chegado o momento adequado para a nossa universidade transformar o curso em Educação Artística, com Habilitação Plena em Música, Artes Plásticas e Cênicas, sem prejuízo para a 1ª Turma, que passaria automaticamente à condição de 1ª Turma do Curso de Educação Artística, Habilitação Plena em Música. Com isto o Setor de Artes passou a ser Departamento de Educação Artística (DEA), sob minha direção, como Chefe.              Outra tarefa árdua e de grande responsabilidade foi escolher a primeira equipe de professores, tendo em vista as quatro áreas do curso.  Como vivíamos em plena Ditadura Militar, a admissão de professores em nossa Universidade era sem Concurso Público. Assim, após a análise rigorosa dos currículos postos à nossa disposição no departamento, cuidavamos com extremo rigor da experiência profissional do candidato, de acordo com as quatro áreas do curso, para em seguida enviá-los à ASI (Assessoria de Segurança e Informação), órgão subordinado ao SNI (Serviço Nacional de Infomação), forma que o governo tinha de evitar o ingresso de professores  subversivos em  nossas universidades. E assim conseguimos montar, nas quatro áreas do curso, uma excelente equipe de professores. 
       A cada ano, após o vestibular, uma nova turma surgia com alunos nas três áreas do Curso  de Educação Artística (Habilitação Plena em Música, Plástica e Cênica).  Anualmente abriamos e    encerrávamos  o período letivo com um concerto no Auditório da Universidade (ou no Teatro 04 de Setembro), com os seguintes grupos: Música de Câmara sob minha direção ao violino, com a participação de alunos e da professora Gislene Macedo, cantando e/ou ao teclado; alunos de piano da professora Maria Amélia;  Esquetes teatrais com o professor Paulo de Tarso Libório; o Coral do DEA com os professores Joaquim Ribeiro ou Colares de Paula; o Grupo de Ballet com a professora Márcia Sementes;   Teatro de Bonecos com professora Lúcia de Fátima; exposições de Artes Plásticas com obras produzidas pelos alunos, sob a direção dos  professores  Afrânio Castelo Branco e Maria dos Prazeres. Além destas apresentações criamos a “Camerata Sinfônica da UFPI, com o apoio do Reitor Professor Camilo Filho, através da Coordenação de Assuntos Culturais (CAC). 
         A minha função de Coordenador do Setor de Artes abrangeu o biênio 1978/79. Em 1980, criado o Departamento, fui eleito Chefe pelos colegas, com mandato de dois anos, que se prolongaram pó mais dois anos após nova eleição, permanecendo no cargo até o final de 1983. Foram, portanto, três mandatos consecutivos, que muito me alegraram, principalmente por ver implantado em nossa universidade o ingresso de professores por Concurso Público. Aliás, o nosso departamento participou, na época, da campanha  em prol dos referidos concursos públicos, encaminhando  uma lista de apoio à campanha com a assinatura de todos os professores.   
     Nestes seis anos de coordenação e chefia de departamento, além do descrito anteriormente, tivemos a preocupação em convidar vários profissionais, alguns renomados, para nos visitar e ministrar cursos, dos quais citamos: Maestro Alberto Kaplan, argentino de nascimento, professor da UFPA, que ministrou curso de Harmonia Funcional  aos nossos alunos e músicos da comunidade;   Paulinho da Viola, que estando em “turnê” por Teresina, aceitou gentilmente o nosso convite e proferiu palestra sobre a MPB; os Luthiers  Carlos Jorge,  do Palácio das Artes de Belo Horizonte; e Francisco Feitosa, da Escola de Música de Brasília, que ministraram cursos abertos à comunidade. É que desejávamos criar um núcleo de “lutheria”, em apoio à escolinha de instrumentos friccionados que organizamos junto ao departamento, com total apoio do Magnífico Reitor Professor Camilo Filho. Instrumentos estes que se encontram até hoje no DEA, e que foram adquiridos após contacto feito por nós, em Brasília, junto a Embaixada da Alemanha, que sensibilizada doou à nossa universidade alguns instrumentos “Orf”, e os já referidos friccionados. É desta época também a requisição do professor Leocádio de Assis Gouvêa, da Escola de música de Brasília, para nos ajudar no ensino dos instrumentos friccionados.  Este saudável esforço possibilitou a criação, por duas vezes, da “Camerata Sinfônica da Fufpi”, com a participação de professores, alunos e músicos da comunidade. Eis alguns nomes, participantes da Camerata: Peinha do Cavaco, José Rodrigues (violino), e Antônio Marques Ferreira (clarinete), alunos do departamento;  Dr. José Lopes dos Santos (flauta) e Aurélio Melo (violino), civis participantes; e músicos do Exército e da PM. Com o êxito desta iniciativa chegamos a encaminhar à Reitoria o Projeto “Orquetra Sinfônica da Ufpi”, verdadeiro embrião de tudo o que se tem feito em nossa capital a nível de música erudita. Como na época não havia computador, criamos o Setor de Musicografia, após curso ministrado pelo professor Leocádio (especialista na área), com a contratação de Aurélio Melo um dos alunos do referido curso. E não só, já que havia inúmeras dificuldades para a criação de uma Escola de Música na Fufpi, encaminhei ao Magnífico Reitor o Projeto de criação da Escola de Música de Teresina (EMT), no começo dos anos oitenta, aberta à comunidade, que seria embrião do futuro curso de bacharelato em música. Dessa forma fez-se um convênio entre a Fufpi e o GEPI (sendo Secretário de cultura o Dr. Wilson Brandão), e criamos a atual Escola de Música de Teresina. À Universidade, através do DEA, coube a orientação didática, a seção de instrumentos musicais, indicação do diretor e o corpo docente; ao Estado o espaço físico, o pessoal de apoio e o material de consumo. Infelizmente durou pouco o convênio, passando o GEPI, através da SEDUC, a assumir a Escola de Música de Teresina (EMT).  
        Em 1983, com a visita do Papa João Paulo II a Teresina, organizei um Coral Infantil com 300  vozes, alunos da Rede Pública Estadual de Ensino, e cantamos para a sua Santidade “O Papa”,  no Aeroporto de Teresina , com o acompanhamento da Banda de Música da Polícia Militar, e participação especial da professora Lúcia de Fátima Araujo, do DEA, auxiliando-nos na coreografia. Pelo que me consta foi o primeiro “Gran Chorale” infantil organizado em Teresina, semente maravilhosamente germinada que produziu o atual “Coral das 1.000 vozes”, que este ano (2008) completará 13 anos de apresentações ininterruptas no Adro da Igreja de São Benedito.
       Havia entre nós uma atenção especial para com a comunidade. Desejavamos que o DEA fosse uma espécie de divisor de águas na cultura musical piauiense e, por isto mesmo, incentivavamos o respeito a todos os gêneros e estilos, com atividades extracurriculares, oferecendo cursos de férias em Teresina e interior do Estado.  O Grupo de Música Popular do DEA tornou-se um exemplo com o seu repertório eclético, onde predominava o “bom gosto” na escolha das músicas e na qualidade de interpretação. Raros os artistas de hoje, na música, nas Artes Plásticas e Cênicas, de reconhecido valor, que não passaram pelo DEA.  E não só, na década de 70 quase não havia grupos corais. Hoje, inúmeros são os corais regidos por ex-alunos graduados pelo DEA (alguns até com pós-graduação), mostrando que Teresina ganhou muito na área do Canto Coral, pois temos até, anualmente, o “Encontro de Corais de Teresina”. As sementes iniciais foram, sem dúvida, o “Coral Nossa Senhora do Amparo” regido pelo Maestro Reginaldo Carvalho; e o “Coral do DEA”, regido pelos Professores Joaquim Ribeiro e/ou Colares de Paula.


                                     Trabalhos realizados após aposentadoria na UFPI


         Em 1993 me aposentei pela UFPI, e continuei atuando com o Grupo de Câmera “Ars Tupiniquim” (o mesmo do DEA, com a participação de alunos instrumentistas). Em 1990 comemoramos 40 anos do Banco do Nordeste, em concerto público com a Camerata Sinfônica de Teresina e Octeto Vocal, experiência que consolidou a criação  da Orquestra de Câmara de Teresina em 1993, pelo então Prefeito Wall Farraz. Hoje em dia leciono na Escola de Música Adalgisa Paiva (Convênio UFPI/PMT/FCMC), Coordeno o “Coral das 1000 vozes” junto a FUNDAC e atuo como regente do Coral “Texto e Música” (coral comunitário). Como compositor possuo três prêmios nacionais de composição pelo INM/FUNARTE, além de obras para orquestra e coro, para coro à capella, Música de Câmara variada, Sonatas-Duos, trios, quartetos, obras didáticas e pesquisas folclóricas, algumas já publicadas. Especificamente sobre o Piauí ressalto o resgate das “Valsas de Possidônio Nunes Queiroz”, da cidade de Oeiras (PI), inclusive com um Cd gravado contendo o resultado das minhas pesquisas, com arranjos meus. Em Brasília (DF), o “Madrigal de Brasília” sob a regência do Maestro Lincoln Andrade, gravou a célebre peça de Pixinguinha “Carinhoso”, com arranjo de minha autoria para coro, quarteto de cordas e violão sete cordas. E em nossa universidade fez-se um trabalho analítico sobre a minha “Cantata Religiosa Sobre Temas Folclóricos Brasileiros”, sob a direção do Professor Dr. Vladimir Silva (chefe do DEA), e análise da aluna Luana Uchôa Torres. O mesmo ocorreu com a minha Suite “Sol de Feira”, sobre frutas da mãe terra brasileira, em que musiquei os belíssimos poemas (do mesmo título) do poeta amazonense Luiz Bacellar - trabalho analítico da aluna Samara, sob a direção do professor Dr. João Berchmans, Diretor do CCE/UFPI. As seguintes composições de minha autoria deverão ser editadas pela UFPI, presume-se, ainda este ano, “Cantata Religiosa” e as três peças para violão solo: “Introdução e Choro” e as Duas Miniaturas “Vagaroso” e “Moderato”.  Finalizando cito ainda uma das minhas maiores alegrias como compositor, saber da execução da “Sonatina AKNATON” para violino e piano, de minha autoria, em São Paulo e Rio de Janeiro,pelo Maestro Cesar Guerra Peixe, uma das maiores expressões da música erudita brasileira do século XX.
     No campo da historiografia musical possuo um trabalho sobre História da Música Erudita Brasileira, ao qual intitulei “500 Anos de Música Brasileira”, que se encontra em mãos do Escritor Herculano de Morais, Presidente da Academia de Ciências do Piauí, da qual sou um dos sócios fundadores, pronta para a 1ª Edição, em convênio ACPI/UFPI. 
   

                                                                                    Emmanuel Coelho Maciel - 2008

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